O texto é uma "dica" do Jefferson Lee de Souza Ruiz
Ano 4, n. 11, 2011
Entrevistado: Maurílio Castro de Matos
Data da entrevista: 25/07/2011
Professor
adjunto da Faculdade de Serviço Social da UERJ e assistente social da
Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias. Doutor em Serviço
Social pela PUC-SP, atualmente é chefe do Departamento de Fundamentos
Teórico-práticos do Serviço Social da Faculdade de Serviço Social da
UERJ e conselheiro do CFESS (Conselho Federal de Serviço Social).
Revista
do Vestibular: O senhor atualmente é professor da Faculdade de Serviço
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – FSS / UERJ. Fale um
pouco da sua escolha profissional.
Maurílio:
No início dos anos 1990, escolhi o curso de Serviço Social e, como
muitos dos meus colegas, não sabia ao certo o que era exatamente a
profissão. O Serviço Social surgiu no país na década de 1930, a partir
do agravamento das contradições do capitalismo. Ao mesmo tempo que o
sistema capitalista possibilitou ao ser humano o desenvolvimento de
muitas potencialidades, como, por exemplo, o avanço da ciência, gerou – e
gera –, pela grande concentração de renda, uma desigualdade muito
grande, fazendo com que muitas pessoas tenham dificuldades de sobreviver
frente à falta de emprego – que será, no capitalismo, sempre uma
realidade. Além disso, na sociedade capitalista em que vivemos, muitas
pessoas também são alvo de preconceito – seja por causa da idade, por
deficiência física etc. –e, no seu trabalho, o assistente social – que é
como se chama o profissional de Serviço Social – tem como prioridade o
atendimento a essas pessoas, buscando contribuir com seu fortalecimento,
para que lutem por melhores condições de vida. Também cabe ao
assistente social buscar mobilizar recursos e políticas sociais para
melhorar a vida dessas pessoas, defendendo seus direitos e cobrando as
responsabilidades do Estado com toda a população.
Revista do Vestibular: Em que áreas, de modo geral, o assistente social pode atuar?
Maurílio:
Os assistentes sociais atuam em diferentes instituições, sejam públicas
ou privadas, como hospitais, centros de saúde, empresas, escolas,
centros de referência de assistência social, organizações não
governamentais, conselhos tutelares. Além do atendimento direto à
população, os assistentes sociais desenvolvem pesquisas e prestam
assessoria a diferentes sujeitos e instituições, como prefeituras,
movimentos sociais, empresas etc. A maior parte do mercado de trabalho
está no setor público e nas áreas da saúde e da assistência social.
Revista
do Vestibular: A universidade se caracteriza por atuar em três eixos:
ensino, pesquisa e extensão. Que campos de pesquisa o senhor destacaria
hoje como fundamentais em sua área e por meio de que projetos de
extensão a FSS / UERJ vem se relacionando com a sociedade?
Maurílio:
Os campos de pesquisa fundamentais para o Serviço Social podem ser
agrupados em três eixos: aqueles que buscam desvelar as condições de
vida da população que o Serviço Social atende (como vivem essas pessoas e
quais são suas estratégias de sobrevivência); as características do
capitalismo nos dias atuais, das políticas sociais e do Estado; e a
própria profissão, desde sua constituição histórica até os desafios e as
respostas que os assistentes sociais vêm dando às situações com que
atuam. Na Faculdade de Serviço Social, desenvolvemos projetos de
extensão em diferentes áreas, como saúde, educação, espaço urbano,
gênero, favelas etc. Em todas essas áreas, pretendemos defender o
compromisso da universidade pública com as necessidades da maioria da
população. Neste momento, por exemplo, o projeto de que participo está
assessorando o fórum contra as privatizações na saúde, que luta pelo fim
da terceirização da gestão dos hospitais e serviços públicos de saúde
no nosso Estado e no Brasil.
Revista
do Vestibular: Atualmente, o senhor faz parte do CFESS (Conselho
Federal de Serviço Social). Qual a importância dessa entidade e de
outras, como a ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social), para a sua categoria?
Maurílio: O
Conselho Federal e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social são entidades antigas: existem há, respectivamente, 49 e
65 anos. São entidades fortes, combativas e respeitadas. A ABEPSS tem
por objetivo garantir a qualidade do ensino. O CFESS, ainda que também
se preocupe com o ensino, é uma entidade que, junto com os Conselhos
Regionais de Serviço Social, exerce a fiscalização do exercício
profissional dos assistentes sociais, zelando pelas condições adequadas
para o seu trabalho.
Revista
do Vestibular: Quais as maiores dificuldades que o jovem graduado em
Serviço Social vai enfrentar na vida profissional? E quais as maiores
alegrias?
Maurílio:
Os assistentes sociais recém-formados vão enfrentar dificuldades comuns a
todos os trabalhadores: entrada em um mercado de trabalho restrito,
contratos precarizados – com ataques a direitos trabalhistas –, poucas
vagas em concurso público etc. Por isso, o investimento numa graduação
com qualidade, com atividades para além da sala de aula – como inserção
em pesquisas, monitoria, projetos de extensão e participação no
movimento estudantil –, pode contribuir para o diferencial na formação
profissional e, possivelmente, facilitar a entrada no mercado de
trabalho. As maiores alegrias advêm de integrar uma categoria que
diariamente trabalha para construir um mundo onde não haja exploração,
violência e desigualdade social. No dia a dia os assistentes sociais
atendem à população, realizam assessorias ou promovem pesquisas que
visam a identificar as raízes da desigualdade social, bem como buscam
estratégias de enfrentamento e resistência a este fenômeno.
Revista
do Vestibular: Gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem para os
candidatos do Vestibular Estadual que desejam cursar Serviço Social.
Maurílio: O
Conselho Federal de Serviço Social está lançando neste ano a campanha
intitulada “Combater a violência no enfrentamento da desigualdade
social: toda violação de direitos é uma forma de violência”. Deixo essa
mensagem para os vestibulandos. Tão importante quanto a escolha de uma
profissão que tenha a ver com a gente é a preocupação com o presente e o
futuro do mundo onde vivemos.
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