Nesses últimos dez anos, as pesquisas sobre a violência têm sido perpassadas por dois debates recorrentes, particularmente quando tratavam da violência nas escolas. Na frente do palco, um debate explícito acerca da definição da violência: o que pode e deve ser considerado uma violência? Mais discreto, um debate acerca das principais fontes da violência e, conseqüentemente, dos esquemas explicativos a serem priorizados: é a violência um fenômeno macrossocial, cujas raízes se encontram no sistema, portanto fora da escola, ou um fenômeno microssocial, ligado às interações, situações e práticas na própria escola?
Esse livro adota uma definição ampla da violência, mas sem cair em um relativismo absoluto e aborda tanto assuntos “macro”, por exemplo, as conseqüências escolares do tráfico de droga, como questões “micro”, por exemplo, os conflitos entre alunos e professores na sala de aula. Esse equilíbrio não é nada fácil e os autores do livro estão cientes das dificuldades. É sobre essas que gostaria de refletir um pouco aqui, na esteira do livro.
Quando o pesquisador se empenha no estudo das violências na escola, quais fenômenos devem e podem ser legitimamente contemplados no seu estudo? Homicídio e estupro são violências, nisso não há nenhuma dúvida.
Mas a resposta já não é tão clara quando se trata de socos, pancadas e pontapés. Se falarmos em “agressão física”, não hesitaremos em dizer que são violências. Entretanto, iremos incluir nas estatísticas oficiais das “violências escolares” todos os socos trocados entre os meninos com oito, nove ou 10 anos? Seria mesmo razoável e científico? Quando se afasta das violências físicas, que ficam no centro do conceito de violência, crescem ainda mais as dúvidas e as dificuldades. São violências, as ameaças de morte? Claro que sim, pois podem ser consideradas agressões morais graves e golpes virtuais. Entretanto, ao categorizar essas ameaças como violências, admite-se que o conceito de violência não implica necessariamente a idéia de contato físico e que uma violência pode ser verbal. Admitamos essa ampliação do conceito. Mas até onde? São violências, ameaças vagas de vingança, insultos, palavras racistas, palavras de desprezo, brincadeiras de mau gosto? É violência, toda palavra que machuca? Que frustra? Também não se deve esquecer que existem formas de comunicação outras que não as palavras e que estas podem machucar. [...]
Esse livro adota uma definição ampla da violência, mas sem cair em um relativismo absoluto e aborda tanto assuntos “macro”, por exemplo, as conseqüências escolares do tráfico de droga, como questões “micro”, por exemplo, os conflitos entre alunos e professores na sala de aula. Esse equilíbrio não é nada fácil e os autores do livro estão cientes das dificuldades. É sobre essas que gostaria de refletir um pouco aqui, na esteira do livro.
Quando o pesquisador se empenha no estudo das violências na escola, quais fenômenos devem e podem ser legitimamente contemplados no seu estudo? Homicídio e estupro são violências, nisso não há nenhuma dúvida.
Mas a resposta já não é tão clara quando se trata de socos, pancadas e pontapés. Se falarmos em “agressão física”, não hesitaremos em dizer que são violências. Entretanto, iremos incluir nas estatísticas oficiais das “violências escolares” todos os socos trocados entre os meninos com oito, nove ou 10 anos? Seria mesmo razoável e científico? Quando se afasta das violências físicas, que ficam no centro do conceito de violência, crescem ainda mais as dúvidas e as dificuldades. São violências, as ameaças de morte? Claro que sim, pois podem ser consideradas agressões morais graves e golpes virtuais. Entretanto, ao categorizar essas ameaças como violências, admite-se que o conceito de violência não implica necessariamente a idéia de contato físico e que uma violência pode ser verbal. Admitamos essa ampliação do conceito. Mas até onde? São violências, ameaças vagas de vingança, insultos, palavras racistas, palavras de desprezo, brincadeiras de mau gosto? É violência, toda palavra que machuca? Que frustra? Também não se deve esquecer que existem formas de comunicação outras que não as palavras e que estas podem machucar. [...]
Title: | Cotidiano das escolas: entre violências | |
Author: | Abramovay, Miriam; Valverde, Danielle Oliveira; Barbosa, Diana Teixeira; Avancini, Maria Marta; Castro, Mary Garcia | |
Corporate author: | UNESCO Office Brasilia; Brazil. Ministry of Education; Observatório de Violências nas Escolas (Brazil) | |
Imprint: | Brasilia, UNESCO/MEC/OVE, 2006 | |
Country: | Brazil | |
Publ Year: | 2006 | |
Collation: | 403 p. | |
Original Language: | Portuguese | |
ISBN ISSN: | 85-7652-057-5 | |
General notes: | Incl. bibl. | |
Main descriptors: | violence; schoolchildren; youth; educational environment; everyday life; Brazil | |
Secondary descriptors: | aggressiveness; juvenile delinquency; student behaviour; culture of peace; social exclusion; ethnic discrimination; statistical data | |
Item available at: | UNESCO Library - UNESCO Archives - UIL Hamburg - UNESCO Brasilia - UNESCO HQ Social Sciences |
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